É impossível sozinhos lutarmos contra uma sociedade inteira, que deseduca todas as crianças.A sociedade brasileira não faz a menor ideia do que
É impossível sozinhos lutarmos contra uma sociedade inteira, que deseduca todas as crianças.
A sociedade brasileira não faz a menor ideia do que é ser professor no Brasil. Embriagados num imaginário fantasioso que mistura uma ideia ridícula de professora Helena e pedagogia por vocação, não conseguem imaginar o que é ser professor no Brasil. Nossa profissão está além do ensino das disciplinas, e nossas escolas estão muito longe do ideal, nossa prática diária está muito mais além.
Na grande maioria das vezes nós substituímos da melhor forma que podemos as relações que as crianças deveriam ter com quem elas amam, somos nós que ensinamos valores, higiene pessoal, normas e regras sociais, certo e errado, moral e ético, etc.. Tudo! Mas, com certeza, isso não é fácil igual muita gente pensa, na maioria das vezes nós professores lutamos contra todo um mundo que rodeia a criança, um mundo que geralmente ensina o contrário, ensina a violência, ensina a mentir, transmite regras imorais e e com certeza levam a criança para um caminho muito ruim, como o da reprodução de preconceitos, discriminações de todos os tipos, como um espelho direto da sociedade, e com certeza como consequência, o bullying.
É claro que tudo isso leva crianças e adolescentes a ter crises de ansiedade, depressão, não aceitação, entre outros sentimentos que pela idade é difícil que consigam entender e lidar, sendo assim, nós como tutores além de educadores tentamos ajudá-los a lidar com esses sentimentos, sentimentos que na maioria das vezes se traduzem em violência contra os colegas e principalmente contra nós, porque hoje em dia as crianças não são acostumadas a ouvir o não, não são acostumadas a serem educadas, porque essa tarefa foi deixada apenas com a escola, tarefa impossível de realizarmos sozinhos.
Um provérbio africano diz: “É preciso uma aldeia inteira pra educar uma criança”. Mas não é assim no Brasil, lutamos para educar sem muitas armas, e contra gigantes, como a mídia , a internet, e famílias que os abandonam, nos desdobramos enquanto a mídia, a internet, a família nos cobra, para que nós sejamos perfeitos nessa missão. Aceitamos Sim essa missão, escolhemos ser educadores, mas não fazemos milagres!
É impossível sozinhos lutarmos contra uma sociedade inteira, que deseduca todas as crianças.
É aí que morremos.
Na tentativa de fazer e cumprir essa missão, somos psicólogos, tutores, orientadores e até quase como familiares dessas crianças. Muitas delas enxergam a escola como o único lugar seguro que elas possuem. Algumas relatam que nem em casa se sentem bem ou seguras.
Nós educadores sabemos o porquê disso, porque na escola nós as ouvimos, nós as vemos, e em nenhum outro lugar e em nenhum outro momento essas crianças são olhadas e encaradas como indivíduos únicos, com vontades, desejos, sonhos e dotados de potencialidades que já estão ali, e que não precisam esperar a idade adulta pra entenderem e saberem disso. É verdade que nem sempre nós, professores, conseguimos.
Não conseguimos porque também somos humanos, também temos defeitos, também temos questões pessoais e psicológicas, e estas últimas mais do que tudo se agravam quando, na tentativa de ajudar, percebemos que estamos falhando.
Estamos morrendo tentando todos os dias. Morremos quando erramos.
Na tentativa de acertar, morremos, morremos quando precisamos tomar algum remédio para conseguir manter a calma, morremos quando não atingimos os resultados esperados, quando deixamos a metade do nosso salário na escola porque tem uma criança passando fome ou sem sapato ou sem roupa, morremos de doenças que são resultado do nosso trabalho.
Se fizermos uma pesquisa agora, encontraremos uma quantidade absurda de professores trabalhando mesmo adoentados, se colocando em segundo plano ou até a família em terceiro plano para cuidar de crianças que não são suas.
Adoecemos em busca dos resultados que o estado cobra, adoecemos por falta de reconhecimento, adoecemos quando somos agredidos por familiares, adoecemos com falas insinuando privilégios, adoecemos, adoecemos… Mas, continuamos….continuamos mesmo sem o reconhecimento da sociedade e sem o reconhecimento de um estado que nos faz sentir que está fazendo um favor por pagar o nosso salário.
E mesmo quando nos sentimos humilhados e desacreditados e tristes por tudo isso, ainda assim levantamos todos os dias e repetimos todos os esforços por amor aos nossos alunos.
Estão nos matando aos poucos, nos matam quando adoecemos por tudo isso e mais um pouco, nos matam quando nos abandonam sozinhos dentro dos Muros da Escola para lidar com situações que são maiores que nós, nos matam quando adoecem as crianças ao ponto delas quererem nos matar.
Nas sociedades em que se valoriza a educação e se valoriza o professor, a violência dentro dos muros da escola e contra os profissionais da educação é menor.
Enquanto o Brasil não mudar esse quadro, nós continuaremos morrendo. Morreremos aos poucos, ou em tragédias como assistimos, mais imediatas. Mas morremos aos poucos, todos os dias e violentamente. Professores morrem, todos os dias.
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