Em uma parte do relato enviado a nossa equipe, ela diz que tentava de tudo para amenizar isso que sentia.Segundo ela parecia ser uma espécie de
Em uma parte do relato enviado a nossa equipe, ela diz que tentava de tudo para amenizar isso que sentia.
Segundo ela parecia ser uma espécie de espectro que me envolvia corpo e alma, exercendo controle sobre o tempo e, propositalmente, fazendo com que cada minuto do seu dia se arrastasse; cada minuto era sentido como eterno. Dias e noites longos e intermináveis.
No dia 30 de outubro de 2.022, uma jovem de 22 anos tentou tirar sua própria vida no pontilhão da Avenida Senador César Lacerda de Vergueiro (Avenida do Café), na região central de Araras (SP). Ela procurou nossa reportagem neste domingo (26), para agradecer publicamente todas as pessoas envolvidas no seu salvamento.
Segundo a jovem, que pediu para não ser identificada, ao longo de 10 anos ela teve alguns episódios de depressão, e ainda hoje encontra barreiras entre seus amigos e familiares, por simplesmente não entenderem como é, na prática, viver com depressão. “Ao relembrar tudo o que aconteceu comigo nesses 10 anos, concluo que meu primeiro episódio de depressão foi aos 15 anos”, disse.
Em uma parte do relato enviado a nossa equipe, ela diz que tentava de tudo para amenizar isso que sentia. Segundo ela parecia ser uma espécie de espectro que me envolvia corpo e alma, exercendo controle sobre o tempo e, propositalmente, fazendo com que cada minuto do seu dia se arrastasse; cada minuto era sentido como eterno. Dias e noites longos e intermináveis.
Outra parte do texto, chamou muito a nossa atenção. Pois ela relata que diferentemente do que grande parte das pessoas imagina, medicamentos não fazem milagres, e nem de longe são a pílula da felicidade artificial. O tratamento é longo, às vezes demora até encontrar o tipo e a dosagem que vai estabilizar a crise, e mesmo estando em acompanhamento, alguns dias é muito difícil levantar, cumprir suas obrigações e se esforçar para que tudo pareça o mais normal possível, sem muitos prejuízos.
Ela finaliza o texto de uma forma muito emocionante e desabafa: “Não culpe alguém por estar com depressão, não julgue! Depressão é uma doença, e seu tratamento depende de muito investimento e, principalmente, de muita compreensão por parte das pessoas que estão ao redor. Só assim se torna possível. Queria agradecer muito ao policial que tentou me incentivar a ir pra clínica e agradecer as pessoas que me salvou na ponte naquele dia obrigada vocês foram meu anjos”.
LEIA TAMBÉM
Empresas querem que Pix pague imposto por transferência
Preço da gasolina deve subir com a volta de impostos; desoneração acaba na próxima semana
Câmara Municipal segue com inscrições para concurso público com salários de até R$ 5.059,94 em Araras, SP
Leia o texto na íntegra abaixo:
Olá pessoal, eu sou a moça que tentou suicido na ponte do café no dia 30 de outubro de 2022, queria agradecer muito as pessoas que conseguiu me tira de lá vocês foram meus anjos não consegui encontrar vocês para agradecer, vamos lá vou explicar o ponto para qual eu cheguei e explicar um pouco oque estava sentindo. Muito falamos sobre empatia e sua necessidade, mas ainda hoje, minha sensação sobre as pessoas que nunca sofreram com um quadro de depressão, ansiedade, crises de pânico entre outros é de que não têm qualquer habilidade para demonstrar sua empatia sobre o assunto. Isso só demonstra que simplesmente não sabem como agir ou ajudar.
Ao longo de 10 anos tive alguns episódios de depressão, e ainda hoje encontro barreiras em amigos e familiares, por simplesmente não entenderem como é, na prática, viver com depressão. Se trato de relembrar tudo o que aconteceu comigo nesses 10 anos, concluo que meu primeiro episódio de depressão foi aos 15 anos.
Ninguém fez nada a respeito. As pessoas que faziam parte da minha vida na época percebiam algo errado, mas encaravam como uma mera fase de minha adolescência. E o resultado dessa postura fez com que o caso só se agravasse e persistisse por mais tempo.
Fui invadida por uma tristeza sem fim. Sofria de insônia e cada noite passava lentamente ao som de músicas tristes, reconfortantes para um deprimida. Eu sentia que minha vida havia acabado e tudo o que queria era não acordar para um novo dia. A tristeza era tão intensa que dormir para sempre seria uma ótima maneira de acabar com ela. Lidar com ela a cada dia me deixava absolutamente exausta.
Eu tentava de tudo para amenizar isso que eu sentia… parecia ser uma espécie de espectro que me envolvia corpo e alma, exercendo controle sobre o tempo e, propositalmente, fazendo com que cada minuto do meu dia se arrastasse; cada minuto era sentido como eterno. Dias e noites longos e intermináveis.
Eu tentei de tudo para amenizar aquela força que agia sobre mim. Tentei me anestesiar com bebidas, baladas, assistia filmes e lia livros de autoajuda. Tentei fazer parte de pelo menos 5 religiões diferentes, e mesmo a psicoterapia ter sido uma das apostas naquela época, nada parecia ajudar, nada era capaz de devolver meu prazer em viver.
Para mim, viver era como um fardo, um castigo que tinha que experimentar todos os dias. Me sentia submersa em algo muito maior, como se eu estivesse acorrentada embaixo d’água em um enorme oceano, e ninguém conseguia me ver para me socorrer. Muito se fala sobre a depressão e seus sintomas, mas a sensação de sentir-se aprisionado dentre desses sintomas é devastadora: tudo fica bagunçado dentro e fora de você. É como se mui…
O sabor dos alimentos não é mais o mesmo, a vida parece estar acinzentada e os dias de sol com o som das risadas das pessoas que passam pela rua contrastam violentamente com o que você está sentindo: faz você se lembrar de não estar tendo controle de seu corpo, e muito menos de sua vida.
Familiares e amigos tentam ajudar e incentivam a fazer mil e uma coisas que viram na TV ou leram na internet, sobre a prática de esportes, hobbies, meditação, sempre com a melhor das intenções… mas costumam falar de uma forma que parece tão simples, e só serve para me sentir pior… tantas sugestões “simples” e eu encontrando dificuldades até mesmo para conseguir escovar os dentes regularmente.
Esse primeiro quadro de depressão demorou dois longos anos para passar. No final dele, já conseguia levar melhor minha vida sem tantos prejuízos, e sem chamar tanta atenção. Porém, por um bom tempo, fui dominada por um sentimento de apatia, não sentia nem tristeza nem alegria.
Nada parecia importar tanto e ouvia com frequência uma música do Arnaldo Antunes que traduzia bem o que eu vinha sentindo: “Socorro eu não estou sentindo nada, nem medo, nem calor, nem fogo… não vai dar mais para chorar nem para rir… socorro alguém me dê um coração.”
Após esse longo episódio, tentei me joga da ponte do café para ver se minha dor e oque estava sentindo fosse embora. Fiquei internada acho que foi dois dias no hospital São Luiz aonde a profissional Dra. Thamires decidiu me caminhar pra uma clínica. Na clínica encontrei alguns bons profissionais e compreender a necessidade do tratamento multidisciplinar, com acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Faço acompanhamento com meu médico psiquiatra periodicamente e a psicoterapia nunca abandonei, mesmo nos momentos bons. Atualmente estou em tratamento. Após um longo período sem sentir qualquer mal-estar ou traços de depressão, a sobrecarga emocional e estresse na vida afetiva e profissional, contribuiu a manifestação novamente da depressão.
Diferentemente do que grande parte das pessoas imagina, medicamentos não fazem milagres, e nem de longe são a pílula da felicidade artificial.
O tratamento é longo, às vezes demora até encontrar o tipo e a dosagem que vai estabilizar a crise, e mesmo estando em acompanhamento, alguns dias é muito difícil levantar, cumprir minhas obrigações e me esforçar para que tudo pareça o mais normal possível, sem muitos prejuízos.
Não culpe alguém por estar com depressão, não julgue! Depressão é uma doença, e seu tratamento depende de muito investimento e, principalmente, de muita compreensão por parte das pessoas que estão ao redor. Só assim se torna possível. Eu queria agradecer muito ao policial que tentou me incentivar a ir pra clínica e agradecer as pessoas que me salvou na ponte naquele dia obrigada vocês foram meu anjos.
COMENTÁRIOS