Protecionismo americano e política econômica de Lula são temas de debate sobre inflação e câmbio.

Nesta quarta-feira (6), o dólar turismo alcançou o patamar de R$ 6 após a vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos.

Especialistas apontam que o cenário deve trazer consequências diretas para a economia brasileira, especialmente com a valorização global da moeda americana. Essa alta está ligada às políticas protecionistas de Trump, que impulsionam o dólar e aumentam os custos para países emergentes como o Brasil. No país, a situação ainda gera questionamentos sobre as políticas econômicas do governo Lula.

Para o economista Ricardo Albuquerque, especialista em macroeconomia e alinhado a perspectivas liberais, a combinação entre um dólar forte e as políticas econômicas do governo Lula pode intensificar a inflação no Brasil. “As propostas de Lula não sinalizam controle de gastos públicos nem uma política fiscal equilibrada. Sem reformas fiscais e com um câmbio cada vez mais alto, o Brasil deve enfrentar uma inflação persistente e juros elevados. A população sente isso diretamente nos preços de alimentos, combustível e produtos importados”, afirma Albuquerque.

O especialista ainda destaca que o ambiente internacional de valorização do dólar coloca pressão sobre países emergentes, especialmente os que enfrentam desafios internos. “O governo Lula opta por expandir os gastos, mas, com o dólar valorizado, essa política pode ser um tiro no pé, pois aumenta o custo da dívida externa e pressiona o Banco Central a manter taxas de juros elevadas, dificultando o crescimento econômico”, conclui.

Por outro lado, a economista Paula Soares, pesquisadora em políticas públicas e desenvolvimento social, defende a abordagem do governo e ressalta que o contexto internacional não depende apenas da política interna. “A alta do dólar é uma reação à eleição de Trump e à sua agenda protecionista, que afeta o mundo todo, não apenas o Brasil. No contexto doméstico, Lula busca uma política voltada para o crescimento e distribuição de renda, necessária para um país com altas taxas de desigualdade”, argumenta.

Ela acrescenta que é fundamental analisar os efeitos de longo prazo. “Lula está tentando fortalecer o mercado interno para reduzir a dependência do dólar. É uma estratégia que pode demorar a mostrar resultados, mas busca estruturar um crescimento menos vulnerável às oscilações externas”, explica.

O cenário atual coloca desafios para o governo brasileiro, que precisa lidar com o impacto do dólar elevado enquanto equilibra políticas de inclusão social e crescimento econômico. O debate entre especialistas indica que, enquanto uns criticam a falta de ajustes fiscais, outros acreditam na necessidade de políticas de apoio à população e à economia local.